Uma nova proposta, ou nem tanto...
Atualizado: 21 de fev. de 2021

Talvez seja um empreendimento sem propósito construir mais um site, mais um blog, colocar mais um tijolinho no colossal edifício que é a chamada blogosfera. E, para piorar, um site sobre temas religiosos e teológicos... Mais um?!?!
É possível que seja mesmo. Eu também estou cansado da avalanche de informação a que estamos submetidos. Só acrescento mais um espaço a este ambiente saturado porque não consegui encontrar aquilo que procurei pelas esquinas da internet. Além disso, senti necessidade de um espaço para expressar minhas reflexões sem censuras e amarras denominacionais. A tradição é, e sempre foi, uma aliada traiçoeira. Aqueles que não dialogam com ela de maneira crítica sucumbem diante das suas armadilhas.
Resumidamente os princípios que norteiam este espaço e seu conteúdo são os seguintes:
1) Não ser o próximo "idiota da aldeia" - Em 2015, o escritor Umberto Eco, considerado por muitos o maior intelectual da Itália, usou palavras duras ao receber uma homenagem na Universidade de Turim. Disse o já falecido autor de O Nome da Rosa e O Pêndulo de Foucault: "As redes sociais permitem que as pessoas se mantenham em contato umas com as outras, mas também dão o direito de falar a legiões de imbecis que antes falavam no bar depois de uma taça de vinho e agora têm o mesmo direito de falar que os ganhadores do Prêmio Nobel" [1]. Naquele discurso, Eco evocou a agora já consagrada figura do idiota da aldeia. "A TV havia promovido o idiota da aldeia sobre o qual o telespectador se sentia superior. A tragédia da Internet é ter promovido o idiota da aldeia a portador da verdade" [2], disse o autor.
Talvez, e só talvez, Eco tenha exagerado um pouco, mas se há uma legião de imbecis na internet eu, certamente, me esforçarei para não fazer parte dela. Qual a estratégia? Recorrer a autoridades reconhecidas em cada área da teologia e interagir com elas de forma a não ser o "tolo criativo". Foi assim que reformadores como Lutero e Calvino construíram suas visões teológicas. Eles respeitosa, mas destemidamente, dialogaram com os mestres que vieram antes deles procurando avançar sem repetir seus erros.
2) Perguntar pelas veredas antigas - A ideia de interagir com autoridades reconhecidas deve levar em consideração o fator tempo. C. S. Lewis denunciava aquilo que ele chamou de "esnobismo cronológico" [3], a tendência de considerar o pensamento de uma época anterior como necessariamente inferior ao atual. Há muito disso hoje em dia. Achar que uma época confusa como a nossa é a mais adequada para fornecer as respostas que afligem a humanidade é, no mínimo, ingenuidade. Precisamos lembrar do que disse o profeta Jeremias: "Assim diz o SENHOR: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma" (Jr 6:16). Assim como Israel nos tempos de Jeremias, faríamos bem em olhar para trás e aprender com as vozes de tempos melhores, em que havia mais sabedoria.
3) Textos curtos para provocar a reflexão - não tenho tempo e nem profundidade suficiente para escrever longos textos. Também não sou escritor. Careço de treinamento e experiência na arte da escrita. A linguagem escrita aqui é, para mim, um veículo para expressar minhas ideias e nada mais. Não tenho outra pretensão. Meu propósito é provocar a reflexão do leitor e levantar pontos de discussão para cristãos que não se sentem satisfeitos com raciocínios simplistas e explicações superficiais sobre os assuntos mais importantes da nossa vida. Como disse Calvino: "Quase toda a suma de nossa sabedoria, que deve ser considerada a sabedoria verdadeira e sólida, compõe-se de duas partes: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos" [3]. Não se pode brincar com algo tão precioso. Refletir é preciso.
4) Sem preferências de tradição - Sola Scriptura é um fundamento muito sólido que norteou o pensamento teológico da Reforma Protestante. Somente aquilo que está revelado nas Escrituras é certamente verdadeiro e seguro. Qualquer outra afirmação pode ser questionada, debatida e admitir diversidade de pontos de vista. Essas outras questões costumam fazer com que as igrejas se afastem e passem a compor as tradições denominacionais. Isso não é de todo ruim, mas muitas vezes as tradições falam mais alto e são incorporadas às convicções bíblicas. Interagir com essas diversas tradições e, principalmente, as linhas interpretativas da Palavra, é importante e precisa ser feito de mente aberta e sem preconceitos.
5) Livre de debates infrutíferos - "nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé." (1 Timóteo 1:4). Nem todos os debates e reflexões têm objetivos edificantes. Muitas vezes não passam de exercícios especulativos e vazios que dificilmente glorificam a Deus e contribuem com o avanço do Reino. Creio ser importante sempre ter um objetivo concreto em cada reflexão e discussão teológica.
6) Busca de princípios sólidos - Conforme passam os anos percebemos a importância central dos fundamentos sobre os quais construímos nosso conjunto de convicções pessoais. A solidez da nossa vida depende das nossas convicções mais profundas, as mais fundamentais. Por isso, é importante que tenhamos clareza quanto aos princípios imutáveis e inegociáveis da nossa fé pessoal. Eles serão a rocha sobre a qual construiremos nossas ideias e nossa visão. É sábio buscar essas convicções na Palavra de Deus e moldar nosso coração de acordo com ela, já que é do coração que "procedem as fontes da vida" (Provérbios 4:23).
7) Escrito por teólogos amadores - como contraponto e ressalva aos itens um e dois, é bom frisar que todas as reflexões aqui contidas são elaboradas por teólogos amadores. O que isso significa? Grandes doses de imperfeição, lacunas aqui e ali e imprecisão no tratamento de muitos assuntos. Somos aprendizes e nos esforçamos para aprender. Os textos aqui publicados são testemunhas do nosso sincero esforço.
Voltando a uma nota mais pessoal, de vez em quando me defronto com a necessidade de opinar sobre algum assunto quando provocado por alguém que me pergunta sobre algum tema. Muitas vezes o assunto é complexo ou precisa de algumas bases sólidas para reflexão, além de sugestões de leitura. Tendo como apontar para algum texto em que as ideias estão razoavelmente organizadas e disponível na internet, diminuo o risco de me perder em digressões (como sempre me acontece) e deixar a pessoa mais confusa do que já estava.
Se alguém me pergunta sobre como vejo a questão do divórcio e novo casamento, por exemplo, posso compartilhar um link para uma página com a minha visão pessoal e de onde ela veio (isso é sempre o mais importante - lembre-se do idiota da aldeia).
Ad fontes foi o grito da renascença e da reforma protestante em busca das origens mais antigas sobre as quais foi construída a nossa realidade. Eu creio nisso. Por isso este espaço. Mas por que Sapienzkolleg? Isso fica para uma próxima conversa. Até lá!
[1] [2] UMBERTO Eco: “Con i social parola a legioni di imbecilli”. Torino: La Stampa, 11 jun. 2015. Disponível em: https://www.lastampa.it/cultura/2015/06/11/news/umberto-eco-con-i-social-parola-a-legioni-di-imbecilli-1.35250428. Acesso em: 1 fev. 2021.
[3] Mencionado por C.S. Lewis em sua obra autobiográfica Surprised by Joy.
[4] CALVIN, Jean. A Instituição da Religião Cristã. 1. ed. São Paulo: UNESP, 2008. v. 1. ISBN 978-85-7139-804-7. Página 37